O lar que cuida: Como o design de interiores transforma a vida com Doença de Parkinson.
A Doença de Parkinson é uma condição neurológica complexa que afeta milhões de pessoas globalmente, impactando significativamente a mobilidade, a coordenação e, consequentemente, a qualidade de vida. Enquanto a medicina avança no tratamento dos sintomas, há uma dimensão muitas vezes subestimada, mas crucial para o bem-estar diário: o ambiente em que vivemos.
Imagine se o seu lar pudesse ser um aliado ativo no manejo da doença, um espaço que não apenas acolhe, mas também facilita e empodera. É exatamente essa a visão por trás de uma iniciativa inovadora que busca integrar o design de interiores no cuidado domiciliar para a Doença de Parkinson.
A dimensão humana no centro do design
Para a Fundação Zoé, representada por sua presidente Elena Zambon, a filosofia é clara: olhar para a “dimensão humana de viver com a doença de Parkinson também através dos espaços”. A ideia é que o ambiente doméstico se torne um verdadeiro “lar ideal”, que respeite a fragilidade e as necessidades do indivíduo, promovendo conforto e segurança.
Essa perspectiva é reforçada pelo Professor Titular de Neurologia da Universidade de Turin, Leonardo Lopiano, que enfatiza a importância vital de adaptar o lar. Segundo ele, é “essencial que o ambiente domiciliar também seja adaptado e modificado para facilitar os distúrbios do movimento, que são a principal manifestação clínica desta doença”. Isso significa ir muito além da estética, pensando em como cada elemento – desde a disposição dos móveis até a iluminação – pode otimizar a segurança e a funcionalidade do dia a dia.
Entendendo os desconfortos para criar soluções reais
Mas como exatamente se traduz essa adaptação em algo prático e eficaz? Francesca Tosi, Professora Titular de Desenho Industrial da Universidade de Florença, explica que o processo se baseia em dois objetivos claros e interligados:
Compreensão Profunda: O primeiro passo é a “compreensão de quais são os possíveis desconfortos das pessoas com doença de Parkinson”. Isso envolve uma escuta atenta, uma observação minuciosa das dificuldades diárias e uma empatia genuína para identificar os desafios que muitas vezes passam despercebidos.
Soluções de Design para a Normalidade: Uma vez identificados esses inconvenientes, o segundo objetivo é “formular possíveis soluções de design para reduzir ao máximo as condições de desconforto, para garantir, sempre que possível, condições de vida mais normais e satisfatórias possíveis”. O foco é na “normalidade”, permitindo que as pessoas mantenham sua autonomia e rotina com o mínimo de barreiras, promovendo uma vida mais independente e digna.
Qualidade de vida e bem-estar psicossocial
Giangi Milesi, Presidente da Confederação de Parkinson da Itália, ressalta um ponto crucial: o objetivo não é “nos trancar em casa”, mas sim “cuidar da qualidade da habitação”. Ele argumenta que, ao fortalecer o ambiente físico, também “queremos fortalecer os componentes psicossociais do cuidado”. Um lar bem adaptado pode reduzir a frustração, aumentar a confiança e promover a independência, contribuindo diretamente para o bem-estar mental e emocional. É sobre viver com “qualidade” dentro de casa, mas com a liberdade e a capacidade de interagir com o mundo exterior.
Uma iniciativa inovadora com sabor italiano
Essa abordagem representa uma verdadeira “iniciativa inovadora no campo da saúde”, como aponta Mariapaola Biasi, Diretora da Fundação Zoé. Ela destaca que essa inovação se insere na “herança totalmente italiana, que é o mundo do design”. A colaboração entre neurologistas, designers e pacientes está criando “novos cânones de beleza, alternativos aos predominantes”, segundo Giangi Milesi. Não se trata apenas de funcionalidade, mas de criar espaços que sejam belos, acolhedores e, acima de tudo, capacitadores, elevando o design a um patamar de cuidado e inclusão.
Em suma, o design de interiores para a Doença de Parkinson não é um luxo, mas uma ferramenta poderosa para promover a dignidade, a autonomia e a qualidade de vida. Ao adaptar nossos lares para as necessidades específicas, podemos transformar desafios em oportunidades, permitindo que as pessoas vivam de forma mais plena e confortável. É um lembrete de que o cuidado vai além da medicação, abrangendo cada canto do nosso mundo pessoal.





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