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Qual a relevância do intestino na doença de Parkinson?

Qual a relevância do intestino na doença de Parkinson?

À medida que as pesquisas científicas sobre doenças neurodegenerativas avançam, mais evidências apontam que, apesar de afetarem o sistema nervoso, elas podem ter origem no intestino. No geral, pessoas com essas condições apresentam diferenças em seus microbiomas, que é o conjunto de microrganismos que compõem a flora intestinal.1 Não à toa, cerca de 70% dos pacientes com doença de Parkinson apresentam como sintoma a constipação – e ela geralmente aparece como sinal prodrômico, ou seja, um indicativo precoce, antes dos sintomas motores.

A seguir, veja alguns sinais que afetam o intestino na doença de Parkinson e entenda as possíveis ligações desse órgão à condição.2

Sintomas do intestino na doença de Parkinson

Os principais sinais da doença de Parkinson que se manifestam no intestino são a gastroparesia e a constipação3. A primeira se refere à dificuldade no esvaziamento do estômago, ou seja, a comida da refeição tende a demorar mais para seguir para o resto do trato gastrointestinal. Dessa forma, uma pessoa com a doença de Parkinson pode se sentir inchada e com náuseas, mesmo após comer pouco.3

Já a constipação diz respeito à dificuldade em evacuar. Isso significa que o indivíduo elimina as fezes menos vezes por dia do que estava acostumado ou, em alguns casos, passa dias sem ir ao banheiro. Assim, pode sentir cólica e inchaço do abdômen.3

Embora esses sintomas, que afetam o intestino na doença de Parkinson possam aparecer de forma precoce,2 eles também podem ser consequência da rotina que a condição impõe:3

  • como efeito colateral de medicamentos, por exemplo os anticolinérgicos e a amantadina;
  • diminuição da atividade física, uma vez que os movimentos estão mais limitados;
  • redução da ingestão de água, para evitar muitas idas ao banheiro.

Relação cérebro-intestino na doença de Parkinson

Ainda que o intestino seja afetado por sintomas da doença de Parkinson, isso não quer dizer que a relação cérebro-intestino seja unidirecional. Cientistas já identificaram que esse circuito é, na verdade, bidirecional, com o cérebro afetando e sendo afetado pelo intestino. Do que se sabe até agora, os órgãos podem se relacionar das seguintes formas na doença de Parkinson:1

1. Sistema imunológico

Um tipo característico de proteína presente no cérebro de pessoas com a doença de Parkinson pode incentivar um ataque do sistema imunológico aos neurônios. Com isso, essas células nervosas são danificadas.4

Ao analisar esse mesmo processo, mas em células do intestino, pesquisadores descobriram que o mesmo acontece. E, como resultado, o ataque do sistema imunológico a essas células causou sintomas intestinais semelhantes aos que aparecem em uma pessoa com a doença de Parkinson.4

2. Nervo vago

Há um circuito de neurônios que ligam o cérebro ao intestino chamado nervo vago. Por esse caminho, percorrem informações do organismo e isso acontece em dois sentidos: tanto do cérebro para o intestino quanto ao contrário. Estudos já mostraram que proteínas características da doença de Parkinson podem percorrer o nervo vago, seguindo o fluxo do intestino para o cérebro.1

3. Microbiota intestinal

A terceira hipótese de conexão cérebro-intestino na doença de Parkinson diz respeito aos metabólitos, ou seja, às pequenas moléculas resultado da decomposição de alimentos e, também, produzidas pelos microrganismos da microbiota intestinal.1 Como reforço à teoria, pesquisadores comprovaram que a composição do microbioma do intestino varia entre pessoas com a doença de Parkinson e aquelas que não sofrem com a condição neurodegenerativa. No entanto, as pesquisas nessa área ainda são recentes.2

O que se sabe até agora é que a quantidade de algumas bactérias benéficas que compõem o microbioma, como Prevotella, Faecalibacterium e Roseburia, estão reduzidas em pessoas com a doença de Parkinson. Ao mesmo tempo, há o aumento da quantidade de outras bactérias, por exemplo Bifidobacterium e Lactobacillus.2

Além disso, estudos indicam que a zonulina aparece elevadas nos portadores de doença de Parkinson. A substância é uma proteína que marca a absorção intestinal e, quando em quantidade maior que o normal, diminui a barreira do órgão. Ela é comumente encontrada no intestino de pessoas que possuem doenças inflamatórias do trato gastrointestinal, como doença celíaca, diabetes e condições autoimunes.2


Referências:

1. YALE SCHOOL OF MEDICINE. Does Parkinson’s disease begin in the gut?. Disponível em: https://medicine.yale.edu/news-article/does-parkinsons-disease-begin-in-the-gut/. Acesso em: 28 jul. 2024.

2. PARKINSON’S FOUNDATION. The Gut-Brain Connection: Why Diet Can Help Parkinson’s Symptoms & Brain Health. Disponível em:https://www.parkinson.org/blog/awareness/gut-brain-connection#:~:text=Gastrointestinal%20dysfunctions%20are%20some%20of,symptoms%20and%20other%20early%20signs. Acesso em: 28 jul. 2024.

3. PARKINSON’S FOUNDATION. Constipation and Other Gastrointestinal Problems in Parkinson’s Disease. Disponível em: https://www.parkinson.org/library/fact-sheets/constipation. Acesso em: 28 jul. 2024.

4. COLUMBIA UNIVERSITY IRVING MEDICAL CENTER. Study Adds to Evidence That Parkinson’s Starts in the Gut. Disponível em: https://www.cuimc.columbia.edu/news/study-adds-evidence-parkinsons-starts-gut. Acesso em: 28 jul. 2024.


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