Qual o cenário da Doença de Parkinson no Brasil?
A doença de Parkinson é o segundo problema neurodegenerativo mais comum no mundo, ficando atrás apenas da doença de Alzheimer.1 Ela atinge mais de 8,5 milhões de pessoas mundialmente2, representando até 3% da população acima dos 60 anos.3 No Brasil, são aproximadamente 220 mil pessoas afetadas.3 Com o aumento da expectativa de vida, mais indivíduos estão entrando na faixa etária de risco, o que leva a previsões preocupantes: até 2040, o número de casos pode dobrar, acompanhando uma tendência global.1 Este cenário ressalta a importância de discutir os desafios enfrentados pelos pacientes e estratégias para superá-los.
O que é a Doença de Parkinson?
A doença de Parkinson é um problema neurológico que causa perdas de neurônios (que são células, altamente especializadas em processar informações) no cérebro, especialmente aqueles responsáveis por produzir dopamina, uma substância essencial para que os movimentos sejam normais.4
Causas – não se sabe exatamente o que provoca essa perda de neurônios, mas os seguintes fatores podem contribuir:5
- Idade avançada – a doença é mais comum em pessoas acima dos 60 anos;
- Genética – cerca de 10% dos casos têm componente genético, especialmente em casos com início precoce;
- Fatores ambientais – como exposição a pesticidas.
Sintomas – podem ser motores (relacionados ao movimento) ou não motores, dentre os quais se destacam:5
- Sintomas motores – tremor em repouso (geralmente percebido nos dedos ou mãos), rigidez dos músculos, lentidão de movimentos (bradicinesia), instabilidade na postura e desequilíbrio;5
- Sintomas não motores – dor, depressão, problemas de sono, intestino preso, dificuldade de raciocínio e diminuição do olfato.5
Tratamento – embora a doença de Parkinson seja progressiva e não tenha cura, as opções de tratamento disponíveis ajudam a controlar os sintomas e melhorar a qualidade de vida, podendo incluir:4
- Medicamentos;
- Terapias de reabilitação, como fisioterapia, fonoaudiologia e terapia ocupacional;
- Suporte psicológico e nutricional;
- Atividades físicas;
- Em alguns casos, a cirurgia pode ser indicada.
Qual é o perfil dos pacientes com Doença de Parkinson no Brasil?
No Brasil, a notificação da doença de Parkinson não é obrigatória, o que dificulta um levantamento preciso das ocorrências. Estima-se que haja de 100 a 200 casos da doença a cada 100 mil habitantes. Uma pesquisa que levantou dados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DataSUS) no período de 2008 a 2020 revelou o seguinte:3
Número de internações – nesse período, o Brasil registrou 11.369 internações de pessoas com diagnóstico de doença de Parkinson, o que equivale a uma média anual de 875 internações.3
Idade dos pacientes – a maioria dos casos ocorreu entre indivíduos com idades de 60 a 79 anos, representando 54,24% do total de internações. No entanto, 27,47% das internações ocorreram em pessoas com menos de 60 anos. Dentro deste grupo, 9,66% dos internados tinham entre 30 e 50 anos.3
Diferenças de gênero – do total de hospitalizados, 56,76% eram homens e 43,24% eram mulheres. Apenas na faixa etária acima de 80 anos a maioria das internações foi do sexo feminino.3
- Predomínio masculino até os 79 anos – pode ser explicado, entre outras hipóteses, por eles estarem mais expostos a fatores de risco ambientais, como agrotóxicos e metais pesados. Além disso, o estrogênio, hormônio feminino, atua como um fator protetor, reduzindo o risco da doença em mulheres.3
- Predomínio feminino acima de 80 anos – mulheres tendem a viver mais que os homens, resultando em mais casos de Parkinson em idades avançadas.3
Diferenças regionais – as taxas de mortalidade por doença de Parkinson variam significativamente entre as regiões do Brasil. Essas variações regionais podem ser atribuídas a diferenças nas condições econômicas, ambientais e demográficas de cada área.3
Região Norte – apresenta a menor taxa de mortalidade, com 9,02 por 100 mil habitantes.
Região Sul – apresenta a maior taxa de mortalidade (31,57 mortes por 100 mil habitantes). Essa região tem os estados com maior expectativa de vida do país, o que pode explicar as taxas mais altas de mortalidade;3
Região Sudeste – tem a segunda maior taxa de mortalidade (27,74 por 100 mil habitantes). A alta industrialização e a densidade populacional podem contribuir para um aumento na exposição a fatores de risco ambientais;
Região Centro-Oeste – a taxa de mortalidade é de 19,9 por 100 mil habitantes.
Região Nordeste – a taxa é de 15,38 por 100 mil habitantes;
Por que a Doença de Parkinson é uma preocupação crescente no Brasil?
O aumento da expectativa de vida no Brasil tende a elevar o número de casos de doença de Parkinson, que afeta principalmente pessoas com 60 anos ou mais.3 Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE):
- Em 2022, a expectativa de vida era de 75,5 anos;6
- Em 2030, pode chegar a 78,6 anos;7
- Em 2060, poderá alcançar 81,2 anos.7
Essa mudança demográfica exigirá maior preparo para atender uma população cada vez mais idosa, o que inclui enfrentar os desafios associados ao aumento da incidência da doença de Parkinson. O custo com a doença – que demanda cuidados por toda a vida – impacta o sistema de saúde.Além disso, nos casos de início precoce, trata-se de um grupo de pessoas em fase produtiva, impactando os setores econômico e social. Com poucas informações sobre a temática, há dificuldade de estimar as despesas futuras.3
O uso de agrotóxicos, alto no Brasil, é outro fator que pode contribuir para o aumento dos casos de doença de Parkinson no futuro, destacando a importância do controle dos fatores de risco.3
Quais os principais desafios enfrentados por pessoas com Doença de Parkinson no Brasil?
A doença de Parkinson no Brasil representa um desafio para o sistema de saúde, pacientes e suas famílias. O aumento dos casos, as dificuldades no diagnóstico e o acesso desigual ao tratamento são questões que merecem atenção.3 Algumas das principais dificuldades enfrentadas atualmente são:
Demora no diagnóstico – o diagnóstico da doença de Parkinson pode ser complexo e demorado, podendo levar anos para ser confirmado.8
- Ausência de teste específico – o diagnóstico é baseado principalmente nos sintomas apresentados. Eles podem ser confundidos com outras doenças, o que atrasa o diagnóstico correto.4
- Escassez de especialistas – a escassez de neurologistas, especialmente em regiões remotas e rurais do Brasil, agrava a dificuldade de acesso a um diagnóstico precoce e preciso.3
Desigualdade no acesso a tratamentos – as desigualdades regionais e socioeconômicas do Brasil afetam o acesso aos cuidados de saúde.3 Além disso, muitos pacientes dependem do Sistema Único de Saúde (SUS), que nem sempre consegue fornecer todos os tratamentos necessários.8 Tratamentos avançados, como estimulação cerebral profunda, podem reduzir a ingestão de medicamentos e os custos em longo prazo. No entanto, o uso dessa cirurgia é restrito pelo alto custo e pela falta de infraestrutura adequada.9
Falta de conscientização – ainda há muito desconhecimento sobre a doença de Parkinson, tanto entre o público geral quanto entre profissionais de saúde. Mitos, como a ideia de que os sintomas são uma parte inevitável do envelhecimento, ainda são comuns. Isso pode resultar em diagnósticos tardios e no tratamento inadequado da doença.9
Suporte aos cuidadores – a doença de Parkinson afeta não apenas os pacientes, mas também suas famílias, que muitas vezes precisam fornecer cuidados intensivos. A sobrecarga emocional e financeira sobre as famílias é um aspecto crítico que necessita de maior atenção e recursos.9
Estigma e discriminação – pessoas com doença de Parkinson frequentemente enfrentam estigmatização e discriminação, incluindo preconceitos no ambiente de trabalho e dificuldades de participação social.8
Como melhorar o manejo da Doença de Parkinson no Brasil?
Para enfrentar os desafios da Doença de Parkinson no Brasil, é essencial implementar políticas de saúde pública eficazes, com foco em garantir diagnóstico, tratamento e suporte às pessoas afetadas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) sugere várias estratégias para alcançar esse objetivo:9
Acesso a serviços de saúde – acesso a medicamentos e terapias complementares, além de suporte social e psicológico. A telemedicina pode ser uma ferramenta útil para oferecer cuidados a pacientes em áreas remotas, facilitando o acesso a especialistas e acompanhamento contínuo.9
Pesquisa e inovação – universidades e institutos de pesquisa brasileiros e internacionais estão envolvidos em estudos que buscam novas terapias e melhores métodos de diagnóstico. Contudo, é crucial que eles tenham maior financiamento.9
Fortalecimento dos sistemas de informação – é necessário um melhor registro do número de pessoas afetadas pela doença de Parkinson e o impacto dos tratamentos, a fim de planejar e implementar políticas de saúde mais eficazes.9
Educação e capacitação – formar mais especialistas e oferecer educação contínua aos profissionais de saúde são passos fundamentais para melhorar o diagnóstico e o tratamento da doença de Parkinson. Campanhas de conscientização podem ajudar a população a reconhecer os sintomas precocemente, facilitando o acesso ao tratamento adequado e reduzindo o estigma associado à doença.9
Prevenção e redução de riscos – para prevenir e reduzir os riscos da doença de Parkinson, a OMS sugere:9
- Proibir pesticidas e produtos químicos associados à doença;
- Reduzir a poluição do ar;
- Incentivar comportamentos saudáveis, como exercícios e boa alimentação.
Referências:
1. What next in Parkinson’s disease? The Lancet, 2024. Disponível em: https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(24)00094-1/fulltext. Acesso em: 30/07/2024.
2. PARKINSON disease. World Health Organization, 2023. Disponível em: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/parkinson-disease. Acesso em: 30/07/2024.
3. VASCONCELLOS, Paula Renata Olegini; RIZZOTTO, Maria Lucia Frizon; TAGLIETTI, Marcelo. Morbidade hospitalar e mortalidade por Doença de Parkinson no Brasil de 2008 a 2020. SciELO – Scientific Electronic Library Online, 2023. Disponível em: https://scielosp.org/article/sdeb/2023.v47n137/196-206/pt/#. Acesso em: 30/07/2024.
4. PARKINSON’S Disease: Causes, Symptoms, and Treatments. National Institutes of Health, 2022. Disponível em: https://www.nia.nih.gov/health/parkinsons-disease/parkinsons-disease-causes-symptoms-and-treatments. Acesso em: 30/07/2024.
5. PARKINSON’S Disease. Cleveland Clinic, 2022. Disponível em: https://my.clevelandclinic.org/health/diseases/8525-parkinsons-disease-an-overview. Acesso em: 30/07/2024.
6. EM 2022, expectativa de vida era de 75,5 anos. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, 2023. Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/38455-em-2022-expectativa-de-vida-era-de-75-5-anos. Acesso em: 30/07/2024.
7. PROJEÇÃO da população do Brasil por sexo e idade para o período de 2000/2060. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ‐ IBGE, 2013. Disponível em: https://ftp.ibge.gov.br/Projecao_da_Populacao/Projecao_da_Populacao_2013/nota_metodologica_2013.pdf. Acesso em: 30/07/2024.
8. PACIENTES e médicos relatam problemas enfrentados pelas pessoas que têm doença de Parkinson. Agência Câmara de Notícias, 2018. Disponível em: https://www.camara.leg.br/noticias/539812-PACIENTES-E-MEDICOS-RELATAM-PROBLEMAS-ENFRENTADOS-PELAS-PESSOAS-QUE-TEM-DOENCA-DE-PARKINSON. Acesso em: 30/07/2024.
9. PARKINSON disease: a public health approach. World Health Organization, 2022. Disponível em: https://iris.who.int/bitstream/handle/10665/355973/9789240050983-eng.pdf?sequence=1. Acesso em: 30/07/2024.
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