Como a Doença de Parkinson afeta a química do cérebro?
A doença de Parkinson está diretamente ligada a mudanças na química do cérebro, particularmente em substâncias conhecidas como neurotransmissores. A falta de dopamina, um neurotransmissor fundamental para o controle dos movimentos do corpo, é responsável por muitos dos sintomas da doença de Parkinson, incluindo tremores, músculos rígidos e movimentos lentos. Nos últimos anos, estudos mostraram que alterações em outras substâncias químicas do cérebro, como glutamato, acetilcolina e serotonina, também contribuem para os sintomas da doença.1 Continue a leitura para entender mais sobre o assunto.
O que é a Doença de Parkinson?
A doença de Parkinson acontece quando certos neurônios (células nervosas) do cérebro sofrem danos. Mais comum em idosos, ela prejudica principalmente os movimentos da pessoa, e os sintomas pioram com o tempo.2 Embora não tenha cura, existem tratamentos que podem reduzir os sintomas e desacelerar a progressão do quadro.1
A causa da doença de Parkinson ainda não é totalmente compreendida, mas especialistas acreditam que ela acontece por uma combinação de fatores genéticos (herdados dos pais) e ambientais (como exposição a certas toxinas).4 Os sintomas variam de pessoa para pessoa, mas entre os principais estão:2
- Rigidez dos músculos, que pode causar dor e limitar os movimentos;
- Tremor em repouso, geralmente percebido nos dedos ou mãos;
- Lentidão de movimentos (bradicinesia), tornando tarefas simples difíceis e demoradas;
- Mudanças na postura, que pode ficar curvada;
- Desequilíbrio, que pode causar quedas ou dificuldade para andar.2
Além de sintomas motores (relacionados ao movimento), como os listados acima, as pessoas afetadas também podem apresentar sintomas que não estão relacionados ao movimento e ao controle muscular, e que muitas vezes surgem anos antes das manifestações motoras. Entres eles, é possível citar:3
- Problemas de sono;
- Problemas gastrointestinais;
- Diminuição do olfato;
- Dificuldade de raciocínio e concentração.3
Importante – os sintomas descritos podem ser causados por muitas outras condições. Portanto, consulte sempre um médico para receber o diagnóstico correto e o tratamento mais adequado para o seu caso.
Qual o papel da dopamina na Doença de Parkinson?
Por razões ainda desconhecidas, a doença de Parkinson causa, pouco a pouco, danos aos neurônios (células nervosas) em áreas específicas do cérebro. A principal região afetada é a substância negra, que é responsável pela produção de dopamina. A falta de dopamina leva à perda do controle dos movimentos, resultando nos sintomas típicos da doença de Parkinson, como tremores e problemas de equilíbrio.4 Conforme a doença progride, esses sintomas se intensificam e podem afetar a função cerebral, causando complicações como dificuldade de pensamento e depressão.3
A dopamina é um tipo de neurotransmissor, ou seja, uma substância química natural do organismo que permite a comunicação entre os neurônios, garantindo que os comandos do cérebro cheguem às diferentes partes do corpo. Normalmente, a dopamina funciona em equilíbrio com outros neurotransmissores para coordenar as milhões de células envolvidas no movimento, sendo essencial para que possamos nos mover de forma coordenada e precisa.4 A dopamina também é importante para outras funções, entre elas:
- Sensação de prazer e bem-estar;
- Regulação do humor;
- Regulação do sono;
- Funções cognitivas, como memória e concentração.5
Todas as pessoas perdem dopamina conforme envelhecem, mas, para aquelas com doença de Parkinson, essa redução é muito mais intensa. Quando os sintomas aparecem, cerca de 60% a 80% das células produtoras de dopamina já foram perdidas. Por isso, os principais tratamentos para a doença de Parkinson se concentram em aumentar os níveis de dopamina ou reproduzir sua ação.6
Quais outros neurotransmissores estão envolvidos na Doença de Parkinson?
A doença de Parkinson envolve uma interação complexa entre vários neurotransmissores. A dopamina tem um papel central, mas agora sabemos que glutamato, acetilcolina, serotonina, GABA (ácido gama-aminobutírico), norepinefrina, entre outros, também estão envolvidos no surgimento dos sintomas motores e não motores da doença. Com o avanço das pesquisas, estamos descobrindo mais sobre os mecanismos do Parkinson, o que abre novas possibilidades de tratamento.1 Confira, a seguir, alguns dos neurotransmissores além da dopamina que são afetados na doença de Parkinson.
Acetilcolina – importante para o funcionamento do cérebro e a estimulação dos músculos. Geralmente, há um equilíbrio entre a dopamina e a acetilcolina nos gânglios da base, uma região do cérebro crucial para o controle dos movimentos. Na doença de Parkinson, a dopamina diminui, fazendo com que a acetilcolina assuma o controle. Esse aumento na atividade da acetilcolina está associado a sintomas como movimentos bruscos e tremores. Por esse motivo, alguns medicamentos para a doença de Parkinson conhecidos como anticolinérgicos atuam bloqueando a ação da acetilcolina.7
Glutamato – envolvido no aprendizado, memória, sono e sinalização da dor, entre outras funções. Na doença de Parkinson, há um aumento na atividade do glutamato, que pode se tornar excessivo e causar danos aos neurônios. Algumas pesquisas sugerem que controlar o glutamato no cérebro têm potencial terapêutico para a doença de Parkinson, podendo ajudar a melhorar os sintomas motores, o comprometimento cognitivo, os distúrbios do sono e os níveis de dor, além de problemas como ansiedade e depressão.8
Serotonina – a serotonina é conhecida por seu papel na regulação do humor, sono e digestão. Os pesquisadores observaram que pessoas com doença de Parkinson apresentam níveis baixos de serotonina, o que pode contribuir para os sintomas não motores da doença, como depressão, ansiedade, distúrbios do sono, dor e intestino preso. Além disso, a serotonina pode influenciar os sintomas motores, incluindo movimentos involuntários.9
Quais são as opções de tratamento para a Doença de Parkinson?
O tratamento da doença de Parkinson geralmente envolve o uso de medicamentos, que podem ser complementados por terapias como fisioterapia e fonoaudiologia, além de mudanças no estilo de vida. Em casos específicos, a cirurgia pode ser considerada como uma opção adicional de tratamento – ela envolve a colocação de eletrodos em áreas específicas do cérebro.6
Os medicamentos usados para tratar a doença de Parkinson atuam de diferentes formas:
- Aumentando o nível de dopamina no cérebro;
- Afetando outros neurotransmissores, como a acetilcolina;
- Ajudando a gerenciar sintomas não motores, como a depressão.6
O acompanhamento médico é essencial para garantir um plano de tratamento que se adapte às necessidades de cada pessoa, sendo seguro e eficaz.5
Referências:
1. YADAV, Divya; KUMAR, Pravir. Restoration and targeting of aberrant neurotransmitters in Parkinson’s disease therapeutics. ScienceDirect, 2022. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0197018622000523. Acesso em: 02/07/2024.
2. Parkinson’s disease. Mayo Clinic, 2024. Disponível em: https://www.mayoclinic.org/diseases-conditions/parkinsons-disease/symptoms-causes/syc-20376055. Acesso em: 02/07/2024.
3. Parkinson’s Disease. Cleveland Clinic, 2022. Disponível em: https://my.clevelandclinic.org/health/diseases/8525-parkinsons-disease-an-overview. Acesso em: 02/07/2024.
4. Parkinson’s Disease. National Institutes of Health, 2024. Disponível em: https://www.ninds.nih.gov/health-information/disorders/parkinsons-disease. Acesso em: 02/07/2024.
5. Neurotransmitters. Cleveland Clinic, 2022. Disponível em: https://my.clevelandclinic.org/health/articles/22513-neurotransmitters. Acesso em: 02/07/2024.
6. Parkinson’s Disease: Causes, Symptoms, and Treatments. National Institutes of Health, 2022. Disponível em: https://www.nia.nih.gov/health/parkinsons-disease/parkinsons-disease-causes-symptoms-and-treatments. Acesso em: 02/07/2024.
7. SHARON, Alina; BERRY, Jennifer. What to know about acetylcholine. Medical News Today, 2023. Disponível em: https://www.medicalnewstoday.com/articles/326638. Acesso em: 02/07/2024.
8. JAMWAL, Sumit; KUMAR, Puneet. Insight Into the Emerging Role of Striatal Neurotransmitters in the Pathophysiology of Parkinson’s Disease and Huntington’s Disease: A Review. PubMed, 2019. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6343208/. Acesso em: 02/07/2024.
9. KOHL, Zacharias; WINKLER, Jürgen. Serotonin in Parkinson’s disease. ScienceDirect, 2020. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/B9780444641250000505. Acesso em: 02/07/2024.
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